domingo, 28 de abril de 2019

Antonio Conselheiro na bicicleta

Ninguém em Itajubá acredita nas grandes enchentes, só eu.
Por isso moro num morro.
Voltar pra casa de bicicleta cansa.
Quando externalizo minhas previsões de dilúvio, sou - com razão - ridicularizado.
São 20 anos de terra seca.
A cidade crê na calha do rio, eu creio no vale.
Infelizmente, tenho certeza de estar certo, mas meu discurso soa como o de um beato, um Antonio Conselheiro a pregar que o sertão vai virar mar.
Pra mim, a cidade tem grandes enchentes a cada 10 anos.
A última foi em 2000.
Lá se vão 19 anos sem inundações.
20, se pensar que a estação da chuva já passou.
É muito tempo.
Todos esqueceram.
Creem em obras reais ou imaginárias de prefeitos.
Lamento, prefeito pode muito, mas ninguém segura as águas.
O Vale do Sapucaí é plano, porque o rio assim o fez. Cavucando o Alto da Mantiqueira.
Em Itajubá, tudo o que é plano, é inundável.
Por acreditar nos meus (tristes) vaticínios, moro no alto de um morro, enquanto a cidade se esbalda na delícia do plano.
E assim, reclamando e prevendo, Antonio Conselheiro volta pra casa de bicicleta.

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