quarta-feira, 7 de março de 2018

O Doutor que me habita

Estranha relação minha alma guarda com o doutor.
Foram anos de estudo para que meu nome pudesse ser antecedido por duas letras: um d e um r.
Mas não fiz Medicina.
O meu d e meu r eram meio paraguaios. Soavam numa vibração acasiana.
Então foram outros anos em que lutei arduamente para que a incorporação das letras se fizesse natural.
Sim... há 20 anos eu tinha ambições de ser o grande advogado de Itajubá.
Pretensão, ignorância e ambição.
Lamentável, mas sincero.
Passei a usar terno desnecessariamente.
Entendia a roupa formal como uma espécie de mensagem.
Ridiculamente apresentava minhas insígnias furtivamente em qualquer conversa informal, meio que contando vantagem, meio que buscando cliente.
Ridículo. Acasiano.
Tenho certa vergonha disto, mas era necessário ganhar dinheiro.
Sem costas quentes, éramos eu e minha Mãe contra o mundo.
Então eu fazia um arremedo de marketing.
Havia também um problema de métrica: dou-to-ran-sel-mo (tetrassilabo) não tem (nem tinha) musicalidade.
O fato é que lentamente foram me aceitando como um profissional do Direito e as duas letras assentaram ao meu nome.
Foi aí que passei a rejeita--las.
É só ouvir um "Dr. Anselmo", como li hoje no Viver é Perigoso, do Amigo Edson, que me bate um desespero.
Incômodo.
Nao moço. Vc ta confundindo. Não sou esse não.
Daí vcs podem pensar que evolui, que os anos me fizeram melhor.... coisas do tipo.
Balela...
Continuo a mesma praga.
Basta entrar no fórum que o fenômeno se inverte: as duas letras brilham em néon.
Se alguém se esquece delas, vem outro  incômodo: algo como se a simples menção ao meu nome de batismo fosse uma tentativa de me diminuir.
Como se o d e o r me protegessem de um "passamenino".
Como disse, há uma relação estranha entre minha pobre alma e o lamentável doutor que me habita.

PS: Obrigado Zelador, pelas palavras carinhosas.
No Viver é Perigoso o d e o r são desnecessários.
Vc tá liberado para dar um "passamenino" a hora que quiser.

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