Um braço da minha família chegou em Itajubá em 1800 e alguma coisa.
Pereira Cabral.
Tem até nome de rua.
Pela genealogia dos Cabral (que está na internet), sou parente da cidade inteira.
Contudo isso não me conferiu o sentimento de pertencimento.
Sinto-me estrangeiro em Itajubá.
Sempre me senti.
Pertencer, pertencer mesmo, sou de Monte Belo, mas isso é outra história.
Voltando ao assunto...
Chegar primeiro não garantiu à minba família próxima patrimônio: são pessoas simples e dependentes do trabalho para viver.
De herança ficou um pedaço pequeno de terra no bairro Santa Cruz, que fica no começo da estrada da Estância.
Um pequeno pedaço de terra que vira e mexe se torna objeto de processo no fórum
(Ah... somos bons em brigar judicialmente por nada).
Pois bem...
Ontem estive lá na Santa Cruz para visitar um confrontante que queria falar comigo:
Toninho dos Santos.
82 anos.
Pessoa da mais alta estirpe.
Trabalhador rural aposentado.
Ele queria me vender 4 novilhas de qualidade e me recebeu contando causos do meu avô Zé Ansermo. Conta também histórias do Zé Cachoeira.
Ele não explicou: é notório pros lados da Estância e Pedra Preta conhecer o Zé Cachoeira, saudoso fazendeiro, inteligente e leal.
Salvo enganjo, Toninho dos Santos é genro do Zé Cachoeira.
Zé Ansermo, Zé Cachoeira e tantos outros que foram citados na conversa já morreram há décadas, mas eles contavam - no presente - que a amizade entre nós e nossas famílias era antiga e sólida.
Eu confio em Toninho dos Santos e - creio - ele confia em mim.
Onde quero chegar?
Esse tipo de sentimento nao existe mais em Itajubá.
Tenho a impressão que Itajubá inteira se odeia ou suporta.
Nenhum político (situação ou oposição) goza do mínimo de confiança.
Não existe o benefício da dúvida.
A pessoa diz "vou sair pra vereador" e já começa às pauladas.
Não que eles (políticos) mereçam aplausos incondicionais.
A questão é que é difícil escolher e ser governado por pessoas que a sociedade dúvida.
Se faz uma rua, o comentário não é "que bonito", mas "na certa comprou tudo antes em nome de um laranja".
Se o vereador quer trabalhar e fiscalizar o Executivo: "tá querendo candidatar a prefeito".
Se alguém demonstra admiração por outro, "puxa saco".
Nenhuma obra é elogiada.
Nenhuma crítica verdadeira é esclarecida.
Pois - para o itajubense normal - todos são indignos de confiança.
Difícil prosperar desunido deste tanto.
Itajubá se tornou parecida com a Faixa de Gaza: todos os lados são parentes, mas estão eternamente em briga por nada (ah... me lembrou a minha família de Itajubá).
Nenhum comentário:
Postar um comentário